De acordo com a Zero, o projeto que foi aprovado no final de 2024 pela Câmara Municipal de Lisboa “aumenta a capacidade de tráfego em vez de se focar na ampliação dos passeios e na melhoria das condições para pedestres, ciclistas e transporte público, comprometendo de forma evidente a segurança dos usuários mais vulneráveis”.
A Zero destaca ainda, em um comunicado, que este projeto vai de encontro às conclusões do processo participativo que “a própria câmara de Lisboa promoveu” e, diante desses fatos, solicita uma reformulação que respeite os resultados desse mesmo processo participativo.
“A vasta maioria dos aproximadamente 2.500 participantes apontou que há um excesso de tráfego automóvel na avenida e deseja que se priorize a acessibilidade para pedestres, bicicletas e transporte público”, enfatiza.
Segundo a organização ambientalista, o projeto “incrementa em 50% a capacidade da via” entre o Martim Moniz e a Alameda, “passando de duas para três faixas”, enquanto o espaço destinado às bicicletas é reduzido e acaba por ficar “sem as dimensões mínimas regulamentares”.
O espaço destinado aos pedestres “não sofre alterações significativas”, e a ciclovia projetada, agora “incorporada ao passeio”, “enfrenta numerosos obstáculos e prevê conflitos sérios entre pedestres e bicicletas”.
“Além disso, os conflitos entre pedestres e veículos motorizados são intensificados, uma vez que o traçado proposto obriga os pedestres a atravessar três faixas de uma só vez e incentiva velocidades maiores”, detalha o comunicado.
A associação critica a Câmara Municipal de Lisboa por “desrespeitar o Manual de Espaço Público de Lisboa, aprovado em Assembleia Municipal”, neste que considera ser um dos “eixos de maior movimento de pedestres e bicicletas da cidade”.
O executivo municipal liderado pelo social-democrata Carlos Moedas apresentou em novembro do ano passado o projeto integrado de revitalização do Eixo da Almirante Reis, uma obra orçada em 20 milhões de euros.
Em 16 de julho, a câmara de Lisboa aprovou um investimento de 639,6 mil euros para a elaboração e coordenação do projeto de requalificação da Avenida Almirante Reis, cujo custo será distribuído ao longo de três anos, conforme informado à Lusa pela autarquia.
O projeto de elaboração e coordenação foi aprovado com os votos favoráveis das lideranças PSD/CDS-PP e PS, enquanto o BE votou contra e os Cidadãos Por Lisboa, PCP e Livre se abstiveram, segundo informações fornecidas na ocasião pela mesma fonte da câmara.
Além das questões de tráfego citadas pela Zero, a associação também destacou os impactos na saúde pública devido à poluição do ar e expressou preocupação de que as mudanças possam resultar em mais atropelamentos na cidade.
“Lisboa é reconhecida como uma das capitais europeias com a maior taxa de atropelamentos fatais e que menos investe na segurança para os usuários de bicicletas, o que pode agravar ainda mais essas condições”, aponta o comunicado.
A associação também mencionou as “soluções inadequadas” sugeridas para a Praça do Chile, para a Alameda e para o segmento entre a Alameda e o Areeiro, todos “marcados por perfis rodoviários excessivos, que favorecem atravessamentos pedonais perigosos, passeios com largura insuficiente e infraestruturas para bicicletas estreitas e inseguras”.
O projeto da nova Avenida Almirante Reis prevê o plantio de 370 árvores, a criação de 275 novos espaços de estacionamento e a eliminação do separador central.
A ciclovia será transferida para as vias laterais e toda a avenida será dividida em dois trechos.
No primeiro trecho, entre o Martim Moniz e a Alameda, a via passa de duas para três faixas, sendo uma descente (no sentido do Martim Moniz) e duas ascendentes (em direção ao Areeiro). A faixa mais à direita será destinada a ônibus.
No segundo trecho, entre a Alameda e a praça do Areeiro, a avenida contará com quatro faixas, sendo duas delas exclusivas para transporte público.
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