Minutos antes de a manifestação iniciar sua trajetória do Arco do Cego até a sede do Governo, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Francisco Gonçalves, destacou que é fundamental “com urgência, valorizar a carreira e o estatuto da profissão, melhorar salários, estabelecer uma carreira mais curta e solucionar os problemas relacionados aos horários de trabalho”.
É imprescindível uma “reavaliação imediata do estatuto da carreira docente e não como o ministério pretende — estender isso até 2027 não resolve o problema”, declarou, alinhando-se ao que será entoado no início do desfile em uníssono: “Para a carreira melhorar, continuamos a lutar”.
Em homenagem ao Dia Mundial do Professor, celebrado em 5 de outubro, a Fenprof organizou uma concentração e desfile no centro de Lisboa, começando no Jardim do Arco do Cego e seguindo até a nova sede do Governo, onde está localizada a Presidência do Conselho de Ministros.
“Se o pacote laboral for aprovado da forma como está, o direito à greve será claramente comprometido na educação. A reorganização dos serviços do Ministério da Educação, a reforma do Estado, que chamamos de desmantelamento do Ministério da Educação, e, claro, a revisão do estatuto da carreira docente, estão interligados a um problema crescente: a falta de professores”, enumerou Francisco Gonçalves.
“Precisamos urgentemente encontrar uma solução para os 4.000 professores que se aposentam todos os anos nas próximas duas décadas”, ressaltou.
Os professores erguiam cartazes exibindo uma reivindicação relacionada ao trabalho e à educação: “Carreira atrativa”, “Aposentadoria justa”, “Horários adequados”, “Apoios para todos”, “Gestão democrática”, “Concursos por graduação”. Após cada item, a mesma frase seguia em todos os cartazes: “Isto não vai com aura. Vai com luta!”.
Conforme os professores chegavam à manifestação, uma van com alto-falantes tocava a primeira música para testar o som, começando com “Venham mais cinco”, de Zeca Afonso. Seguiu-se “Liberdade”, de Sérgio Godinho.
Da van não sai apenas música, mas também mensagens de protesto. Um cartaz na parte superior do veículo traz uma caricatura do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do ministro da Educação, Fernando Alexandre, cada um segurando um martelo, simbolizando — conforme uma frase sob o desenho — que suas ações políticas representam uma “destruição da escola pública”. Na lateral da van, outro cartaz exibia que professores, educadores e pesquisadores estão “contra o pacote laboral” que o Governo pretende aprovar neste ano.
Com esta ação de protesto, sob o lema “Unidos pela profissão, unidos pelo futuro”, a federação sindical clama por respostas efetivas à crescente escassez de professores nas escolas públicas, buscando medidas que valorizem a profissão docente e lembrando ao Governo de seus compromissos internacionais em defesa da educação pública.
O lema da ação reflete o tema escolhido pela Internacional da Educação para 2025, originado na Cimeira da UNESCO sobre os Professores, em Santiago do Chile, onde, em 29 de agosto de 2025, foi adotado o Consenso de Santiago, um documento que fornece recomendações à UNESCO sobre o futuro da educação, reconhecendo a relação entre professores e alunos como “um patrimônio comum da humanidade”.
De acordo com dados do Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), divulgados em 22 de setembro, uma semana após o início oficial do ano letivo 2025/2026, 78% das escolas públicas têm falta de pelo menos um professor, com 38 estabelecimentos enfrentando mais de 10 horários em aberto, a maioria localizada em Lisboa e na Península de Setúbal.
Você pode conferir imagens da manifestação na galeria acima.
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