O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, declarou neste sábado que o país não participou “de nenhuma ação que possa ser interpretada como uma venda de armamento a Israel”, após a passagem de aviões americanos pela Base das Lajes, situada nos Açores, em abril deste ano.
“Isso já foi esclarecido. A explicação e o esclarecimento que nós fornecemos estão relacionados ao fato de que, em uma primeira reação, não havia todas as informações disponíveis dentro do âmbito do ministério dos Negócios Estrangeiros”, começou por afirmar em declarações aos jornalistas durante um evento em Chaves, no distrito de Vila Real.
Ele acrescentou: “Nós não interviemos em nenhum ato que pudesse ser entendido como uma venda de armamento a Israel. Isso não ocorreu. O que aconteceu foi uma escala, creio de três aviões, não exatamente de armamento militar“.
Na mesma oportunidade, ele foi indagado se já havia resposta de Israel ao protesto formal feito pelo governo em relação ao tratamento dispensado aos ativistas portugueses, mas afirmou que não tinha informações a respeito.
“Até o momento em que cheguei aqui, não estou ciente de nenhuma resposta. O que posso informar é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros está acompanhando essa situação de perto com nossa embaixadora em Telavive, junto da nossa seção consular. Contudo, até onde sei, não há uma resposta até agora“, disse.
Os quatro ativistas portugueses que participaram da flotilha humanitária Global Sumud e foram detidos em Israel enfrentaram “considerável tempo” sem água e comida, levando a um protesto do governo junto ao embaixador israelense em Lisboa, conforme relatou uma fonte oficial à Lusa.
O que realmente ocorreu nas Lajes?
Vários aviões de combate F-35, adquiridos pelos Estados Unidos por Israel, fizeram uma parada na Base das Lajes, na ilha Terceira, Açores, em abril passado, um fato que gerou bastante controvérsia e até pedidos de demissão do ministro da Defesa, Nuno Melo.
Conforme reportou o Expresso, em um vídeo compartilhado pela Island Aviation Terceira no Youtube, é possível observar os caças 967, 968 e 969 aterrissando em 23 de abril na base americana localizada no arquipélago português. Os mesmos teriam decolado no dia seguinte, acompanhados por dois reabastecedores americanos KC-135.
De acordo com a mesma publicação, três dias depois, em 27 de abril, a revista israelense especializada em assuntos militares Israel Defense informou que sua Força Aérea havia recebido esses três F-35, mencionando que os aviões fizeram uma escala na Europa. A fotografia que acompanhava a notícia era, de fato, do avião 968, registrado dias antes na Base das Lajes.
O mesmo veículo noticiou que outros três F-35 também passaram pela ilha Terceira em março, embora não seja possível confirmar essa movimentação.
Demandas de demissão e convocações
O líder do Livre, Rui Tavares, sugeriu a saída de Melo, afirmando que “não compreende” como o ministro pode continuar no cargo.
O Bloco de Esquerda, por sua vez, acusou Melo de permitir a passagem de aeronaves e material bélico “para serem utilizados no genocídio do povo palestino”, alegando que isso ocorreu “à revelia do ministro dos Negócios Estrangeiros”.
Além disso, o Partido Socialista e o Partido Comunista Português anunciaram que solicitarão audiências com os ministros Nuno Melo e Paulo Rangel, para que expliquem a parada dos aviões F-35 vendidos pelos EUA a Israel, com destino a Telavive, através da base açoriana.
[Notícia atualizada às 11h52]
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