A distância que separa os principais centros de Portugal, que os habitantes de Bragança também sentem, ficou mais curta com a abertura, hoje, do Consulado Honorário de Angola em Bragança.
A partir de agora, tratar de documentação, como passaportes ou Bilhetes de Identidade, não exigirá mais uma viagem ao Porto, que está a mais de 200 quilómetros de distância, pois será possível realizar esses serviços neste novo espaço localizado nas instalações da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança (ACISB).
Embora não se saiba exatamente quantos angolanos residem em Bragança, um levantamento está em andamento, conforme informou à Lusa o cônsul honorário, António Cunha, que também é responsável pelos consulados de Vila Real e Guarda, que já estão em operação, assim como o que será implantado em breve em Viseu.
A maioria dos angolanos que vivem em Bragança são estudantes, com mais de 200, e essa comunidade está em constante crescimento na cidade interiorana portuguesa.
Wilson Correia chegou a Bragança há dez anos, aos 20 anos, para estudar no Instituto Politécnico (IPB). Formou-se em Engenharia Ambiental e decidiu ficar.
Ele contou à Lusa que “no início, não foi fácil”. Teve empregos temporários enquanto estudava, posteriormente começou a trabalhar em uma empresa de logística até conseguir um emprego em sua área de formação em Vimioso.
Quando chegou a Bragança, havia “cerca de 20 angolanos” estudando no politécnico, e atualmente formam “uma comunidade muito forte e grande”.
Wilson já foi presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Bragança, que continua a acolher e apoiar os novos estudantes que chegam.
Segundo ele, não enfrentou “grandes dificuldades” de adaptação, apesar do frio rigoroso de Trás-os-Montes em comparação com o calor de Angola, porque “a cidade sempre foi preparada para isso, as casas têm todo o necessário”.
Ele afirmou que a cidade o recebeu bem, mencionando que “o apoio institucional sempre esteve presente”, tanto das entidades locais quanto das acadêmicas.
O Consulado Honorário é considerado “muito importante”, uma vez que “a maioria dos angolanos residentes em Bragança é composta por estudantes e, para tratar qualquer documentação, é necessário quase perder um dia, viajando para o Porto ou Lisboa”.
“Com a abertura aqui, reduzimos drasticamente o esforço em termos de apoio, além de ter alguém disponível para oferecer um abraço, conversar ou orientar”, ele observou.
Salomão Ferreira chegou há quatro anos para estudar e agora é o presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Bragança, que é um politécnico conhecido pela diversidade cultural, com alunos de mais de 70 nacionalidades, sendo a comunidade cabo-verdiana a mais numerosa entre os estudantes estrangeiros do IPB.
“O mérito também é da cidade de Bragança, que nos acolheu de braços abertos, incluindo professores e o presidente do Politécnico, além de outras instituições”, enfatizou.
Para novos chegados que não conhecem ninguém, a associação oferece apoio, e o presidente aconselha a “compartilhar as dificuldades no momento em que surgem”.
Salomão diz que se sente integrado em Bragança, destacando “a abertura que encontrou e a rede de contatos que a associação proporciona”, envolvendo desde o politécnico até a Câmara Municipal e as autoridades policiais.
“Sou angolano em Bragança, muito querido e bem acolhido aqui também”, sublinhou.
O Consulado Honorário de Angola em Bragança irá resolver questões que afligem a comunidade “de forma mais rápida, eficiente e eficaz”, afirmou.
Além de diminuir a distância em relação aos serviços, este novo espaço também servirá, segundo Ivana Delfina Machado Jorge, como um ponto de encontro para a comunidade angolana residente em Bragança.
Para ela, Bragança se destaca de outras regiões de Portugal por ser uma cidade pequena onde todos se conhecem, facilitando o encontro com outros compatriotas.
Outro aspecto positivo que ela menciona é que, exatamente por ser uma cidade pequena, viver em Bragança permite “resolver muitas coisas em um único dia”, algo que não é viável para quem reside em Lisboa ou no Porto.
Ivana decidiu se mudar de Angola para Bragança, cidade natal de seu marido, há cinco anos, para trabalhar e “proporcionar uma melhor educação” para os filhos, que, segundo ela, “se adaptaram perfeitamente”.
“A minha principal força veio deles, porque todos os dias chegavam: mamãe, fui eleito delegado de turma, aconteceu algo bom na escola, e isso me fortaleceu a gostar mais de Bragança”, compartilhou.
Ivana também sentiu algum “sufoco” com a mudança, lidando com a saudade da família, amigos e da típica casa cheia que faz parte da cultura africana, diferente da que encontrou em Portugal.
Com o tempo, ela se acostumou e concluiu que o frio de Bragança “não é tão ruim assim”.
“Há o calor das pessoas e vamos nos acostumando”, acrescentou.
Ela se sente integrada, trabalha como auxiliar de supermercado e se esforça para “estar presente para quem chega e também oferecer apoio a quem já está aqui há mais tempo”.
Aprofundar os laços entre portugueses e angolanos também é um dos objetivos deste novo espaço, reiterou o cônsul honorário, António Cunha, que também pretende atuar como um elo para investidores entre os dois países, estimular redes de contatos empresariais e fomentar trocas comerciais.
O espaço também servirá como um local para promover a cultura angolana.
Durante a cerimônia de inauguração, a embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus dos Reis Ferreira, lembrou as recentes palavras do presidente angolano, João Lourenço, sobre as dificuldades de integração, decorrentes da legislação.
“Os portugueses em Angola não enfrentam as mesmas dificuldades”, declarou, pedindo “reciprocidade” e para que “sejam criados mecanismos que facilitem a integração dos cidadãos angolanos em Portugal”.
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