Um antidepressivo amplamente utilizado, a sertralina (comercializada sob os nomes Zoloft e Lustral), parece proporcionar melhorias modestas em sintomas-chave de depressão e ansiedade nas primeiras duas semanas de tratamento, de acordo com uma nova análise liderada por pesquisadores do University College London (UCL).
O estudo, publicado na Nature Mental Health, reexaminou resultados do marco da pesquisa PANDA, lançada originalmente em 2019. A pesquisa anterior havia encontrado que a sertralina aliviava a ansiedade antes de ter um impacto mensurável na depressão. Neste novo trabalho, os cientistas aplicaram um método mais detalhado conhecido como análise de rede, que permitiu rastrear como sintomas específicos – em vez de pontuações gerais de depressão – respondiam ao medicamento.
Analisando Mudanças nos Sintomas
Examinando dados a nível de sintomas, a equipe constatou que os pacientes em uso de sertralina apresentaram melhorias mensuráveis no baixo humor e em pensamentos suicidas dentro de duas semanas. Ao mesmo tempo, alguns efeitos colaterais físicos, como fadiga, diminuição do apetite e libido reduzida, foram observados. Como esses efeitos se sobrepõem a sintomas comuns da depressão, a interpretação de sua causa deve ser feita com cautela.
Os pesquisadores sugerem que análises anteriores, que combinaram todos os sintomas depressivos em uma única medida, podem ter mascarado melhorias nos sintomas emocionais mais centrais da depressão.
Nesta análise refinada, os benefícios iniciais foram observados em sentimentos de tristeza, autocrítica, inquietação e ideação suicida.
Reconsiderando o Estudo PANDA
O estudo PANDA, um estudo controlado randomizado, investigou como a sertralina afetou pessoas na Inglaterra que apresentavam sintomas depressivos leves a moderados. Em 2019, os resultados publicados na The Lancet Psychiatry mostraram que a ansiedade e a saúde mental geral melhoraram dentro de seis semanas de tratamento, enquanto os sintomas depressivos maiores não melhoraram de forma significativa até 12 semanas.
Esta nova análise focou em dados de 571 participantes que forneceram registros completos de sintomas. As descobertas sugerem que a recuperação emocional pode começar mais cedo do que se acreditava anteriormente, com certos aspectos depressivos centrais respondendo mais rapidamente à sertralina do que as pontuações gerais de depressão indicaram.
Efeitos Colaterais e Equilíbrio Emocional
Alguns sintomas físicos ou “somáticos”, incluindo sono ruim e baixa libido, tendiam a piorar inicialmente. Embora esses possam ser efeitos colaterais de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a sertralina, eles também são sinais frequentes da própria depressão, tornando os resultados mais complexos de interpretar.
A autora principal, Dra. Giulia Piazza (UCL Psychiatry e UCL Psychology & Language Sciences), explicou: “Agora, pintamos um quadro mais complexo dos efeitos da sertralina sobre os diferentes sintomas da depressão. Em vez de pensar na depressão e na ansiedade como condições únicas e uniformes, a análise de rede considera que cada uma é uma constelação de sintomas, que podem aparecer em diferentes combinações para diferentes pessoas.”
Ela acrescentou que entender essas relações pode revelar como certos sintomas, como o sono ruim, podem desencadear outros, como a redução da concentração e da autoestima.
Chronologia dos Efeitos
A análise mostrou que as melhorias nos sintomas emocionais e de ansiedade começaram dentro de duas semanas e continuaram a aumentar ao longo do tempo. Enquanto isso, os sintomas físicos pioraram ligeiramente nos estágios iniciais, mas se estabilizaram após cerca de seis semanas.
A Dra. Piazza observou: “Parece que os efeitos adversos em sintomas somáticos, como sono ruim e libido, podem se estabilizar após seis semanas, sendo então contrabalançados por melhorias contínuas nos sintomas emocionais, que são os sintomas principais da depressão.”
Impacto Mais Amplio e Implicações Clínicas
A sertralina, um membro da classe dos ISRS, permanece como um dos tratamentos mais prescritos tanto para depressão quanto para transtorno de ansiedade generalizada.
O Professor Glyn Lewis (UCL Psychiatry), que liderou o estudo original PANDA, afirmou: “Nossos achados fornecem evidência robusta que continua a respaldar a prescrição de sertralina para pessoas que enfrentam sintomas depressivos e de ansiedade. Essas descobertas ajudarão pacientes e clínicos a tomar decisões mais informadas sobre o tratamento.”
O coautor sênior, Professor Jean-Baptiste Pingault (UCL Psychology & Language Sciences), acrescentou: “Descobrimos que os efeitos benéficos da sertralina podem ser detectados de forma muito precoce, assim que duas semanas após o início do uso do antidepressivo. Além deste estudo, nossos resultados destacam a importância de considerar os efeitos em nível de sintomas ao desenvolver novos medicamentos e avaliar os existentes na psiquiatria, e como isso pode nos ajudar a entender como esses medicamentos funcionam e como eles podem ajudar os pacientes.”
A pesquisa teve o apoio da Wellcome, enquanto o estudo original PANDA recebeu financiamento do National Institute for Health Research (NIHR) e do NIHR University College London Hospitals Biomedical Research Centre.
* Resultados originais do estudo PANDA publicados na UCL News em 2019: Antidepressivos podem reduzir a ansiedade mais do que os sintomas depressivos.






