Um novo estudo publicado na JNeurosci, liderado por Tian-Ming Gao e colaboradores da Southern Medical University, investigou como a sinalização do trifosfato de adenosina (ATP) pode impactar a depressão e a ansiedade em camundongos machos. O ATP é amplamente conhecido como a principal fonte de energia das células, mas também atua como um mensageiro químico que ajuda na comunicação entre os neurônios. Como uma comunicação saudável entre as células do cérebro é fundamental para a regulação das emoções, os pesquisadores concentraram seu trabalho no hipocampo, uma região envolvida na memória, nas respostas ao estresse e no desenvolvimento de sintomas depressivos.
Para compreender melhor o papel do ATP nessa área, a equipe analisou os padrões de sinalização no hipocampo e como eles mudavam sob estresse. O hipocampo tem sido associado a transtornos de humor, em parte porque é sensível ao estresse prolongado e está envolvido na formação do comportamento emocional. Disfunções nessa região podem afetar a maneira como o cérebro processa o estresse, criando um terreno fértil para a depressão ou ansiedade.
Estresse, Perda de ATP e o Papel da Conexina 43
Os pesquisadores descobriram que camundongos machos predispostos a desenvolver comportamentos semelhantes à depressão e à ansiedade após estresse prolongado apresentavam níveis mais baixos de ATP. Esses animais também produziam menos de uma proteína essencial para a liberação de ATP (conexina 43). A conexina 43 forma canais que permitem a movimentação de ATP entre certas células, sendo uma parte importante da forma como o cérebro mantém níveis saudáveis de energia e sinalização.
Para verificar se a redução da liberação de ATP contribuía para os sintomas relacionados ao humor, a equipe reduziu geneticamente ou removeu a conexina 43 em células que normalmente liberam ATP. Este experimento foi realizado em outro grupo de camundongos que não haviam sido expostos a estresse prolongado. Mesmo sem um ambiente estressante, a redução da conexina 43 desencadeou comportamentos semelhantes à depressão e à ansiedade, além de diminuir os níveis de ATP. Essa descoberta sugeriu que disfunções na liberação de ATP poderiam influenciar o comportamento emocional por si só.
Quando os pesquisadores restauraram a conexina 43 no hipocampo de camundongos estressados, os níveis de ATP voltaram ao normal e os animais mostraram melhorias significativas em seu comportamento. Essa recuperação ajudou a reforçar a ideia de que a sinalização do ATP desempenha um papel central na regulação do humor.
Uma Via Biológica Compartilhada para Depressão e Ansiedade
Gao explica: “Esta é a primeira evidência direta de que a liberação deficiente de ATP em [uma região do] hipocampo impulsiona comportamentos semelhantes à depressão e à ansiedade, revelando uma via molecular compartilhada [para essas condições].” Identificar tal via é crucial, pois depressão e ansiedade frequentemente ocorrem juntas e podem ser difíceis de tratar simultaneamente com as terapias atuais.
Gao observa que a ligação entre a conexina 43 e a liberação de ATP destaca um possível alvo para tratamentos futuros. Ao aprimorar ou restaurar a sinalização do ATP, os cientistas podem, eventualmente, desenvolver intervenções que abordem ambas as condições ao mesmo tempo. A equipe de pesquisa também planeja incluir tanto camundongos machos quanto fêmeas em estudos futuros para determinar se esses mecanismos operam de maneira semelhante entre os sexos, o que poderia ampliar a relevância de suas descobertas.






